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Brasil tem apenas 6% dos geriatras necessários para atender idosos

“Formação de geriatras não acompanha ritmo de envelhecimento da população; medicalização e infantilização atrapalham busca por qualidade de vida”

Além de consultas ao geriatra, praticar atividades mais complexas são importantes para um bom envelhecimento.
No grupo de WhastApp, uma amiga escreve: “Preciso de indicação de geriatra. É para a mãe de uma colega do trabalho, que está meio mal. Não parece ser de doença, mas de solidão mesmo. Ela quer consultar um geriatra para ver se ele dá uma orientação”.

Casos como esse podem ser difíceis de resolver, pelo menos no que se refere ao atendimento médico: o número de geriatras no Brasil é muito baixo, situação ainda mais preocupante levando-se em conta o envelhecimento da população.

A recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) é de que exista um geriatra para cada mil idosos. Mas no país a proporção ainda é de um para 16 mil idosos, de acordo com dados do Conselho Federal de Medicina (CFM), de 2018. Além disso, a maioria atua no Sudeste: 60% do total. A Região Sul aparece com apenas 15,4% dos médicos.

Em números, são apenas 1.817 geriatras em todo o Brasil, equivalente a 0,5% sobre o total de especialidades (381,5 mil), conforme o Atlas Médico 2018. As especialidades com maior representatividade são clínica médica (42,7 mil títulos) e pediatria (39,2 mil), algo que não condiz com a necessidade da população no médio e longo prazo, na opinião do economista Paulo Tafner, expert em Previdência Social.

Em 6 de junho, em palestra sobre o tema realizada em Curitiba, ele falou sobre o impacto do envelhecimento e questionou a plateia:

“Tem alguém aqui que tem filho em idade de prestar vestibular, e quer prestar para Medicina? Um orgulho para qualquer família? Oriente seu filho. Não seja pediatra. Vai ter que caçar cliente com laço. Seja geriatra.”
Brincadeiras à parte no discurso de Tafner, o envelhecimento do brasileiro é assunto sério e fundamental na definição das políticas públicas. Atualmente, a população idosa (mais de 65 anos) representa 9,5% da população, e, os jovens (0 a 14 ano”

“Daqui a 20 anos, essa relação vai se inverter, segundo as projeções populacionais do IBGE atualizadas em 2018. Essa transição ocorrerá aos poucos, mas pode até se acelerar, dependendo do contexto socioeconômico brasileiro – a crise de 2014, por exemplo, adiantou em cinco anos o fim do bônus demográfico, em que a população jovem crescia a taxas superiores à da população idosa. Essa “janela de oportunidade” acabou há um ano, conforme noticiado pela Gazeta do Povo na época.

Segundo o médico Vitor Last Pintarelli presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, seção Paraná (SBGG-PR), é preciso reconhecer que o número de especialistas vai demorar para aumentar.

O Atlas Médico mostra isso: dentre os 16,5 mil profissionais participantes de programas de residência médica em 2017, apenas 200 (0,6%) cursavam geriatria.

“Para Pintarelli, o acompanhamento médico dos idosos é fundamental, já que nessa idade costumam aparecer várias doenças, tratadas cada uma pelos chamados especialistas focais – que atuam sobre determinado órgão ou aparelho, como cardiologistas, oftalmologistas, neurologistas, etc.

“O médico focal direciona a atenção para um órgão ou aparelho e pode não ter a visão global do paciente e o contexto da doença que está ocorrendo. Mas, nessa idade, em que o paciente costuma ter múltiplas patologias, é preciso um profissional que tenha visão de conjunto, e aja como uma espécie de maestro da orquestra, indicando quando é mesmo necessário que passe por consulta de especialista ou até revendo medicamentos em duplicata ou que não sejam necessários. É papel do geriatra reconhecer situações como as de pacientes que sofrem efeitos colaterais ou têm ainda mais sofrimento com um remédio do que o causado pela própria doença e ordenar os medicamentos”, explica.”

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