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Quando aproveitar a vida é prioridade: Como idosos estão curtindo a velhice

Dona Helena ama ir ao cinema. A artista plástica de 81 anos, moradora do Jardim Europa (zona oeste de São Paulo), frequentemente pede um 99 para ir a um dos cinemas de rua ver algum filme. Uma das vantagens de se pedir um carro por aplicativo mesmo quando se é dona de um automóvel, ela conta, é não precisar pagar pelo estacionamento.

“Além disso, é mais confortável”, diz Helena Carvalhosa. “Eu pego quatro vezes por semana, no mínimo.”

A artista é um exemplo de que é, sim, possível curtir a vida na velhice. E, ao contrário do que poderia sugerir o senso comum preconceituoso, idosos podem usar tecnologias digitais tranquilamente  — e aproveitar os serviços oferecidos por aplicativos.

“Podendo comprar um celular, os idosos pedem ao amigo, ao filho ou ao neto ajuda para aprender a usá-lo”, explica Flamínia Manzano Moreira Lodovici, 72, professora da pós-graduação em Gerontologia da PUC-SP. “Idosos que têm a possibilidade financeira buscam até professor de informática, fazem uso produtivo de aplicativos.”

Segundo o levantamento Projeções da População de 2018, feito pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o Brasil tem 28 milhões de idosos — eles equivalem a 13% da população, um número que tende a dobrar no decorrer das próximas duas décadas. O mesmo instituto afirma que, em 20 anos, a população de idosos vai ultrapassar em quantidade a de crianças e adolescentes.

Já um estudo de 2016 feito pelo Mosaic Brasil, do Serasa Experian, diz que metade dos idosos que residem no Brasil vive em zonas urbanas, pertence à classe média e tem boas condições de vida. Eles estão curtindo a velhice buscando lazer, estudando e até voltando ao mercado de trabalho.

O SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito), por sua vez, diz em pesquisa que 6 a cada 10 idosos afirmam que “aproveitar a vida” é prioridade. Nada mais, nada menos do que 46% dos entrevistados responderam que o lazer tornou-se mais frequente para eles ao chegarem à terceira idade. E viajar é um dos programas prediletos: 20% dessa população investe mais em turismo hoje do que quando era jovem.

Dona Helena usa 99 até quatro vezes por semana — no mínimo. Se não pede um carro para ir ao cinema, pede para ir ao curso de pintura em um instituto de arte na zona oeste, ir a algum Sesc, visitar amigos ou família e, sem dúvida, quando o deslocamento é longo.

“Em certas situações, tenho preguiça de dirigir. Em vez de guiar, eu chamo 99. Tenho amigos que fazem o mesmo”, conta.

Já a vendedora aposentada Edna Pereira Brite, 76, moradora do bairro Alto do Ipiranga (zona sudeste da capital paulista), prefere pedir 99 para se sentir mais segura — em especial quando se desloca para fazer pagamentos.

“Quando chove, eu também peço um. Peço também quando vou à casa da minha filha e a consultas médicas”, conta.

Dona Edna conta que aprova o serviço dos motoristas da 99, com quem ela sempre faz questão de conversar, e o custo-benefício das corridas. Praticidade também é importante para ela: a maior parte dos deslocamentos que faz é curta.

“Se for para mais longe, como para os lados da Paulista ou do Itaim, às vezes já peço o carro para ir mais rápido”, diz.

A aposentada diz que usa aplicativos de transporte desde que eles se popularizaram, incentivada pelos filhos. O serviço representa para ela uma melhoria que a tecnologia digital nos proporcionou.

Segundo a professora de Gerontologia da PUC, é importante ponderar que os idosos compõem um grupo heterogêneo, são pessoas diferentes entre si e em circunstâncias diferentes.

“As classes mais pobres têm idosos que, além de receberem aposentadoria, também estão no mercado de trabalho ajudando com as contas de casa. E, quando já estão fragilizados, pode não ter quem cuide deles e casas de repouso podem custar muito caro para essas pessoas”, diz.

O “despertar dos velhos”, conta a professora, tem que vir acompanhado de compreensão de suas capacidades, interesses e posicionamentos — eles são seletivos e sabem o que é bom para eles. No caso do uso de aplicativos, a família deve estar por perto para auxiliá-los no que for necessário.

“Há também os idosos que escolhem não usar. Tem que respeitar o desejo dele de usar ou não”, explica. “Se escolher usar, é importante ele aprender com outras pessoas a fazer um uso proveitoso dessa tecnologia no seu dia a dia.”

FONTE: HuffPost (https://www.huffpostbrasil.com/entry/idoso-lazer_br_5df7dfb9e4b0ae01a1e5404d)

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